26 junho 2006

Até quando deu errado, era para dar certo!

Quando inciamos nosso Projeto Mudança, a primeira providência que precisamos tomar é fazer o passaporte.
Fomos até a Polícia Federal em Ribeirão Preto numa sexta feira, no início de julho de 2005 para aproveitar a viagem e ver meus pais, irmão, cunhada e sobrinha que lá residem. Aguardamos na fila e quando fomos atendidos, deu tudo errado. A moça que nos atendeu disse que não poderíamos pedir os passaportes por Ribeirão porque nossa cidade era da região de Saõ José do Rio Preto. Nossa... foi um baque!
Mas como não, poxa vida, já havíamos efetuado o pagamento, preenchido os formulários e deu tudo pra trás. Não discutimos, mas eu principalmente, fiquei muito chateada. Ainda perguntei para a moça: Quanto tempo levria para ficar pronto? E ela: Uns 40 dias! A demanda aqui é muito grande!
O César, que é de ficar ainda mais P da vida que eu, permaneceu bem quietinho e tranquilo. Eu dizia: você vai ficar quieto assim, não vai comentar nada? Estranhei a reação dele, pois em outras situações ele teria esbravejado muito por causa da burocracia. Mas não! Ele, ainda muito tranquilamente disse: não adianta, o que é pra ser, será!
Passamos o final de semana em família e de volta em casa, na segunda-feira, liguei para a Polícia Federal em São José do Rio Preto e expliquei para a moça o que havia acontecido. Ela disse que nós poderíamos fazer em Ribeirão Preto mesmo, pois já havíamos feito o pagamento para a sede daquela PF, que era somente falar com o superior da atendente e eles não poderiam nos negar o direito de fazer lá. Se quiséssemos fazer ali em SJRP deveríamos pagar novamente as taxas para aquela agência.
Nossa, que sacanagem da moça de Ribeirão, pensei! Nos fez perder a viagem quando poderia fazer nossos passaportes lá.
E então, a melhor parte... perguntei: e quando ficaria pronto se fizéssemos aí em SJRP? E ela: no mesmo dia, se derem entrada no período da manhã!
Não imaginam nossa alegria... Teríamos que aguardar 40 dias para pegar nossos passaportes se a moça tivesse feito o que deveria...
Pagamos novamente as taxas, pedimos o reembolso das taxas que havíamos pago anteriormente e na terça-feira estávamos com os nossos passaportes, o que nos permitiu enviar nossa documentação para Buenos Aires na mesma semana.
Assim, até o que deu errado, foi para dar certo. Se não fosse isso, não teríamos feito nossa entrevista em novembro e ainda estaríamos longe de finalizar o Processo.
Como disse o César na ocasião: o que tiver que ser... será! O que tem que ser... é! Se pedimos que as coisas aconteçam da melhor forma, Deus permite que assim seja!
Hoje, quase 1 ano depois, estamos quase com nossos passaportes nas mãos, mas com o visto de Residentes Permanentes!

23 junho 2006

Relembrando nossa história

Com a chegada dos pedidos dos exames médicos podemos respirar e realmente começar o Processo de Mudança. É neste momento que tiramos dos armários e estantes tudo o que acumulamos durante nossa vida para embalar o que temos de mais importante em apenas algumas malas.
Os móveis e utensílios domésticos não me preocupam, pois mesmo que não consigamos dar destino a tudo, nossos familiares o farão por nós. Como por algum motivo sabíamos que não ficaríamos aqui por muito tempo, nunca quisemos investir e comprar muitos móveis e utensílios. Portanto, não está tão difícil!
O que me deixava preocupada era o escritório. Era na estante desta parte da casa que estava guardada a nossa história. Esta estante já está quase vazia.

Ali tínhamos os livros que durante a nossa vida foram chegando e tomando seu lugar. Durante as várias fases, a vontade de aprender sobre algo fazia com que novos volumes fossem chegando. Vários dos nossos livros didáticos e outros já estão em outras estantes, pois foram doados. Os que restaram, seria impossível levar para nossa futura casa no Canadá, também não dá para distribuir, doar ou vender tudo, pois além do valor monetário desses inúmeros volumes, há também o valor sentimental. Quem gosta de ler, sabe disso!
Estes livros, o César principalmente, vem adquirindo há anos. Estes serão guardados um pouco em cada lugar... nessas horas, qualquer lugarzinho livre na casa dos nossos famliares é bem vindo!

Ali também tínhamos documentos, exames médicos, contratos, recibos... separar tudo e verificar o que pode ser eliminado é bem trabalhoso... mas vamos em frente.

Ali tínhamos as fotos dos nossos amores, das pessoas que caminharam conosco até aqui e que estarão sempre ao nosso lado, mesmo distantes, torcendo para que o melhor sempre nos aconteça e orando para que encontremos o que estamos buscando. Pessoas que participaram dos nossos dias, das festas de aniversário, dos Natais e festas de Ano Novo, enfim, dos nossos momentos de alegria e confraternização. Tínhamos as fotos das crianças, tiradas dia após dia, na intenção de não perder nenhum sorriso, nenhuma conquista e também para acompanhar as mudanças físicas dos primeiros meses e anos.... Dessa riqueza, não abro mão... as fotos já estão na bagagem de mão e são elas que nos permitirão recordar dos melhores momentos em família.

Ali, numa caixinha, estavam guardadas as cartas e cartões que recebi e que enviei (para o César, que guardou as dele junto das minhas). Neste momento de mudança, pude as cartas, bilhetes, cartões e recordar momentos das nossas vidas.

Quanto caminhamos, quanto aprendemos juntos, quantos momentos dividimos, quantas fases diferentes vivemos, quantos anos se passaram e tudo isso foi construindo nossa história. Foram anos bem vividos e muitas experiências acumuladas.
Hoje, este Processo para a mudança nesta história construída até aqui, também está construindo a nossa história e no futuro, quando lermos estas linhas, poderemos recordar de cada dia, de cada etapa, da agonia e da ansiedade sentidas todos os dias e, se Deus quiser, poderemos dizer: Tudo isso valeu a pena...
Quero deixar registrado: até aqui, nossa história é muito linda e gostosa de ser relembrada... até aqui, tudo valeu a pena!

19 junho 2006

É só alegria! Que delícia!

Que maravilha! Recebemos o tão esperado pedido de exames médicos! Não acreditamos quando abrimos nossa caixinha de correio e lá estava o tão aguardado envelope! A sensação é muito boa! Estamos cada vez mais próximos da nossa mudança de vida!
Vamos agora encarar pra valer os preparativos para nossa viagem, vender o que precisamos vender, doar o que queremos doar e empacotar o que iremos levar.
Não foi fácil esta espera, mas cada degrau e cada etapa vencida vale a pena! Que 10!
Canadá... Quebec....Sherbrooke.... estamos chegando!!!!!!

13 junho 2006

Estréia do Brasil

Hoje o Brasil estréia na Copa do Mundo. No corre-corre de manhã, arrumando as crianças, substituindo o uniforme pela camiseta verde-amarela, o César disse: "que coisa, né... o Brasil pára, parece que o povo fica anestesiado e não se pensa em mais nada!"
O que vemos nestes dias de jogos da Copa é o povo se movimentando para torcer, comprando camisetas, pintando as ruas, colocando bandeiras nas suas casas e carros... é bonito de ver esta movimentação para torcer pela nossa seleção, que sem dúvida, é uma das melhores senão a melhor do mundo. É bonito de ver a garra e a união de todo um povo para torcer, vibrar e esperar pelo hexa da nossa seleção. O nosso povo sabe se unir, se preparar e se movimentar pelas coisas.
E então continuamos a nossa conversa... por que não vemos este movimento para o que realmente precisamos ver? Por que o Brasil não pára quando os representantes deste povo estão desviando os recursos da saúde, educação e bem-estar social? Por que o povo brasileiro não se organiza para lutar pelo seu futuro e se movimentar pela vitória de todos os seus filhos?
Por que não vestimos a camisa verde-amarela para mostrar que somos um povo que merece respeito, que amamos nosso Brasil e que queremos que este seja um país mais justo e com mais igualdade? Por que não pintamos as ruas, nossas casas e penduramos nossa bandeira para mostrar que queremos governantes que pensem no povo e que não admitimos mais tantos rombos nos cofres públicos, desvios de verbas, mensalões, super-faturamentos, e tantas outras coisas que tiram recursos da educação e da saúde dos nossos filhos.
O povo sabe se movimentar... infelizmente que somente para os jogos, carnaval e festas. Mas, para o que realmente interessa e é importante, não há movimento algum. O nosso povo realmente está anestesiado e neste período, a anestesia é geral...
Nós estamos torcendo pela nossa seleção e realmente gostaríamos que o hexa viesse para o nosso país, mas tentamos fazer nossa parte com relação a movimentar gente do povo como nós a requerer seus direitos.
Em sala de aula, sempre buscamos conscientizar nossos alunos a lutar pelos seus direitos. Só para registrar um exemplo, numa fila imensa para o pagamento da energia, certa vez o César tentou convencer algumas pessoas para chamarem o gerente e registrar o descontentamento e a falta de respeito com idosos que aguardavam para serem atendidos. Resultado: todos desconversaram.
Diante desta anestesia geral, de um povo necessitado mas que se nega a lutar e buscar por melhorias para seu próprio bem estar e qualidade de vida, saúde e educação temos três opções:

1) brigar o tempo todo nas filas ou quando somos mal atendidos ou ainda lesados por este sistema que tira nosso sangue e assim nos tornarmos antipáticos e isolados no campo de batalha;

2) nos deixarmos contaminar por esta anestesia e passar a aceitar tudo, o que já está acontecendo, infelizmente;
3) buscar outro caminho.

Para que a nossa vida melhore é também preciso que haja empenho de um povo que só quer festejar e sambar ou que simplesmente cruza os braços e espera do vizinho algum tipo de atitude. Não dá para salvar o mundo ou um povo estagnado, sem força e ideais, que não sabe lutar para o futuro dos seus filhos, que vive o hoje, como se não houvesse o amanhã ou que este não tenha importância.
Resolvemos, então, salvar as nossas vidas e a dos nossos filhos. Resolvemos salvar o nosso futuro e nos dar a oportunidade de uma vida com mais qualidade. Resolvemos buscar outro caminho.
Hoje vesti a camisa verde-amarela (na verdade tem azul também) para ser mais uma torcedora na estréia do Brasil em busca do Hexa, mas gostaria de vesti-la mais vezes e colaborar, não sozinha, para a mudança do meu país. Hoje vesti esta camiseta que tem as cores do meu país, mas não vou me esquecer dos graves problemas que estão lá fora e que estão afetando as nossas vidas; não vou me esquecer que estamos num país que precisa de gente séria pra governar e alterar a cor destas águas em que estamos mergulhados. Quero navegar ou nadar em águas limpas e não num mar de lamas.

09 junho 2006

Aguenta coração!

O coração está a mil... espero que no futuro possamos rir de toda a angústia que estamos experimentando estes dias. Continuamos aguardando qualquer notícia do consulado sobre o nosso Processo. Mudamos as passagens de 15/06 para 07/07 e até agora nada. Enviamos uma carta para o Consulado e nenhuma resposta. O que será que está havendo?
Acho que para a maioria de nós, lidar com a ansiedade e a angústia é de certa forma parecido. Queremos que as coisas sejam como planejamos e que as coisas aconteçam no tempo que estipulamos... mas nem tudo é como queremos que seja...
Eu iniciei este blog colocando isso... que nem tudo depende da gente ou está ao nosso alcance. Eu já escrevi isso e acredito nisso: "nem tudo acontece como queremos, e sim, tudo é como deve ser"... e no fim, acontece o melhor, sempre! Mais uma vez, temos que segurar a angústia, respirar fundo e aguardar, pois sempre estamos no lugar onde Deus quer que estejamos e disso não podemos esquecer... vamos fazendo a nossa parte e o que não depende de nós, coloquemos nas mãos D´Ele!
E vamos torcer pelo Brasil, afinal hoje está começando a Copa do Mundo 2006. Que possamos nos alegrar com as vitórias da nossa seleção, pois as decepções com o nosso Brasil têm sido muito grandes... todos os dias!

02 junho 2006

O Primeiro Passo

Começar o processo de imigração é um passo importante.
Que angústias, insatisfações, sonhos e esperanças se condensam neste momento: o momento de dar o primeiro passo!
Primeiramente não podemos negar: sim, uma profunda insatisfação, principalmente quando você já lutou muito, quando já investiu em estudo, quando já trabalhou e percebe que seu país está contaminado por uma profunda corrupção e pela ausência de valores nobres.
Contudo, não se pode falar apenas em decepção. Justamente por estudarmos e trabalharmos tanto, almejamos espaços mais amplos e experiências mais ousadas.
Começamos estudando as diversas possibilidades de sair do Brasil. Pensei na Austrália, pensei no processo Federal do Canadá, mas fiquei realmente feliz quando descobri o processo pelo Quebec. A razão é simples: eu sempre estudei francês, mesmo que de forma intermitente, sempre amei a língua e a cultura francesas e de repente descobri que isso não iria ficar apenas como um luxo de um professor brasileiro. De repente isto foi fundamental. Sem contar o resto, o apoio e a estrutura que o Quebec oferece aos imigrantes.
Gosto do inglês, mas não tinha mais ânimo para estudar para o IELTS. Também achei fantástico o Quebec ter essa forma inteligente de selecionar, o fato de levar em conta a totalidade de sua vida, se possui recursos, se é casado, se tem filhos, experiência de trabalho e formação...e, sem dúvida, a proficiência em Francês. Isso quer dizer que valorizam a pessoa como totalidade, como perspectiva de construir uma vida nova lá.
Mas, este post é sobre o primeiro passo. Você tem que estar realmente decidido, pois envolve dinheiro, tempo e uma imensa disposição pra exercitar a paciência.
Contudo, quando se olha para o Brasil, para as perspectivas que seus filhos terão, quando se vê que 75% das prefeituras e instituições públicas estão envoltas em corrupção, fica difícil não considerar a saída. Imigrar é uma aventura! Respiramos, pensamos, refletimos e em junho de 2005 começamos a ler os formulários e a preenchê-los a lápis. Li e reli, fiz e refiz o teste no site da imigração. Tínhamos os pontos tanto para o Federal quanto para o Quebec, considerando tirar uns 4 ou 5 no IELTS.
Em 13 de julho enviamos a papelada. Foi por correio e fomos rastreando o pacote.
Bem, o coração deste dia em diante vai ficando maluco, um misto de ansiedade, medo, esperança e vontade de acelerar o tempo. O primeiro passo foi dado. Eu precisava escrever sobre aquele mês de junho e como sentamos ao redor da mesa pra considerar seriamente deixar o Brasil. Desde então, muita coisa aconteceu e, quem tiver paciência, vai acompanhar essa saga.
Escrevi de montão. Mas deu pra liberar o fígado...esse negócio de esperar me tira do sério!