21 fevereiro 2006

Sobre nós e os porquês da mudança!

Somos um casal com um casal de filhos. O Victinho com 6 anos e a AnnaBia com 4 anos.... Essas duas crianças são nosso maior tesouro! Nada é mais importante nas nossas vidas do que permitir que os nossos filhos cresçam saudáveis e tenham toda uma vida feliz!
Somos professores. Abraçamos o estudo porque sempre acreditamos que é também através dele que conseguimos crescer e conquistar espaço neste mundo tão competitivo.
É sempre positivo lutar, buscar novos caminhos, superar obstáculo, conquistar espaço, alcançar metas... Estes são os nossos objetivos.
Eu sou professora “por acaso do destino”... gosto de ensinar, mas não gosto das condições nem do pouco caso que se dá à educação neste nosso Brasil. Meu marido é professor por aptidão e opção... ele adora a educação, trabalhar com jovens e incentivar neles a busca do conhecimento. Adora falar, discutir e instigar para que a busca do conhecimento se instale.
Sabemos que a educação é o caminho para o desenvolvimento e crescimento do país. Quantos jovens tem seus talentos desperdiçados pela falta de investimento na educação, esporte e cultura! Fazer o quê! Um povo educado saberia lutar por melhores e maiores condições e não é bem isso que os nossos governantes querem!
Estes e muitos outros fatores fazem com que hoje busquemos uma mudança. Cansamos de ver um país tão lindo, com gente bonita e cheias de vida desperdiçarem seus talentos. Cansamos de ver tantos jovens sem esperança e oportunidades!
Não queremos que nossos filhos cresçam trancados dentro de casa nem que percam a chance de desenvolver todas as suas potencialidades. Queremos que eles possam brincar na rua, jogar bola queimada com as crianças vizinhas, como fazíamos quando crianças (são as minhas melhores lembranças das brincadeiras na infância). Queremos que eles possam praticar esportes e que tenham momentos de lazer em parques e em meio à natureza.
Hoje, aqui no Brasil, eles passam as tardes em frente à TV. Nosso portão vive trancado e nossos finais de semana são regados pelos filmes locados ou pelos programas da TV. Na nossa cidade não há sequer um lugar onde possamos andar de bicicleta ou fazer um pique-nique. Não há um parque ou um lago!
Nosso orçamento não permite que eles façam tudo o que gostaríamos que fizessem, pois aqui tudo é pago. Hoje, ainda na infância, podemos oferecer a escola (particular), aulas de natação e de equitação, que eles adoram, mas e depois? E a formação ideal que nossa realidade exige?
Num futuro próximo, não conseguiremos suprir as necessidades para formar nossos dois filhos. Acho que o mais triste para pais e mães é saber a importância de uma boa formação e não ter condições de oferecê-la!
E por isso, para oferecer à nossa família um futuro com qualidade de vida e para nossos filhos a oportunidade de viver num país que valorize a infância, a educação e os seus cidadãos, estamos indo embora. Vamos para o Canadá!
Nossos pedidos a Deus são para que nos dê saúde e que nos guie. Acreditamos que Ele tem nos guiado para esta mudança! Ainda não chegamos no final do Processo, mas tudo vem dando tão certinho, que acreditamos que Ele nos tem abençoado a cada dia. E, se no fim desta caminhada, concretizarmos esta mudança, será com a Sua Bênção
!

14 fevereiro 2006

Nono Maledeto

O César, meu querido marido, é professor por aptidão e opção... ele adora a educação, trabalhar com jovens e incentivar neles a busca do conhecimento. Adora falar, discutir e instigar para que a busca do conhecimento se instale. É uma pena que neste nosso Brasil a educação é tão pouco valorizada. Mas sabemos que é ela o caminho para o desenvolvimento e crescimento do país. Quantos jovens tem seus talentos desperdiçados pela falta de investimento na educação, esporte e cultura! Fazer o quê! Um povo educado saberia lutar por melhores e maiores condições e não é bem isso que os nossos governantes querem!
Além de professor, gosta muito de escrever. Ganhou dois prêmios pelos seus contos.
Todos estes contos estão guardados no armário, o que é um pecado, com excessão destes dois textos, publicados em livros na ocasião!
Bons textos ficam escondidos no fundo do armário ou nos "meus documentos" do computador.
Sou suspeita a falar, mas meu maridão tem talento para escrever. Vejamos se mais alguém terá a mesma opinião!
O texto abaixo, chamado "Nono Maledeto" foi escrito em homenagem aos seus avós e bisavós, de origem italiana. Com este conto ele ganhou o Prêmio Ignácio de Loyola Brandão - Biblioteca Pública Mário de Andrade - Araraquara - SP

"NONO MALEDETO


Berto era um maledeto, um putom, como dizia sua mama, uma italiana de sangue quente e coração generoso. O velho Berto há muito perdera a mãe, mas restavam-lhe os filhos, netos e os bisnetos, dois bezerrinhos de fome voraz, a mesma fome que o trouxera da Itália há mais de setenta anos. Restava-lhe também esperar a morte, pois quando batia à porta dos seus quase noventa anos, a doença já lhe havia minado completamente as forças e o desejo de viver. Acamado desde o início daquele ano, Berto fazia, então, o balanço de sua vida, percebendo que havia muito por ajustar, muito por fazer, mas que não se arrependia de nada, nem mesmo das blasfêmias professadas contra a Madona.
A família já sentia no ar o cheiro da dona morte. A agonia minava o velho leão dia-a-dia, sugando-lhe toda a exuberância física. Ele apanhara o “resfriadinho de merda” e o “desgraciato” galopou pneumonicamente até prostrar-lhe. Parecia uma árvore velha e frondosa que começava a desgalhar, a perder a seiva e a pujança. Intimamente sabia que não ia durar muito, sabia que Deus lhe havia dado anos felizes, muitas lutas e dores, mas seu tempo esvaía, feito resto de areia a extinguir-se na ampulheta. Quando batia o sexto mês que estava acamado, uma crise mais forte e uma infecção acabaram com os últimos vestígios de sua resistência heróica e Berto entrou em coma profundo. Como era seu desejo não ser levado para um hospital, a família improvisou uma pequena UTI e passou a revezar-se no quarto do moribundo, esperando que dona Maledeta viesse cortar o fio já tênue daquela longa vida. Estranhos presságios andavam nos corredores na casa ampla e ventilada.
Berto, que temera a morte por tantos anos, descobriu que estar em coma é estar meio morto, pois não sentia mais o corpo, apenas sua cabeça parecia funcionar. Sempre sabia qual dos filhos estava no quarto, mas não conseguia articular palavra alguma. Muitas vezes lutava para mover um dedo e o esforço feito daria para mover um cavalo. Lentamente aceitou a paralisia e notou, surpreso, que sua mente tornava-se clara como o sol, e ele podia ver mentalmente o filme da sua vida passando vagarosamente ante os olhos apagados. Parecia um filme em retrospecto, pois começou por ver o dia do “resfriadinho” e foi voltando. Viu o nascimento do filho mais novo, Giovanni, quando ele, Alberto, já contava setenta anos. Passou-lhe pela mente o nascimento de cada filho e, até mesmo, o dia em que Giuliano, o mais velho, arrepiou a família ao falar o primeiro palavrão. Falar palavrão era um mal de família, que Berto tentara mudar quando nasceu o primogênito, mas o menino o convenceu de que aquilo era mesmo um mal do sangue genovês, com o qual teria de conviver. Mal completara sete anos e um belo dia saiu-se com o palavrório: “ Puta que o pariu Madona mia”. O pai assustou-se, de início, e depois continuou a falar seus palavrões preferidos.
Berto lembrou-se de suas lutas para criar a numerosa família, assistiu novamente a cada uma das doenças dos seus doze filhos. Ao rever o trabalho duro nas plantações de café em Fernando Prestes, deixou que duas lágrimas furtivas rolassem silenciosas. Como era bom trabalhar, mover os braços com agilidade e sentir o cheiro da plantação logo pela manhã. Como era bom tocar o orvalho nas folhas e, de chapéu no cocoruco, sentir o sol levantar-se, espreguiçando e lançando aquele calor medonho que devorava até a última gota de orvalho. Reviu seu corpo jovem, seus braços fortes e lembrou-se de Malvina. Como era bela a maledeta!!
Lembrou-se da viagem para o interior e de quantos dias passaram em lombo de burro, atravessando estradas e fazendas, ruminando dentro dos trens da Companhia Paulista que mais pareciam lesmas com febre de tão lerdos. Recordou-se da cidadezinha que ainda ensaiava os primeiros passos, do fazendeiro duro e exigente. Lembrou-se novamente de Malvina, como era bela a maledeta!!
O primeiro beijo ainda estava vivo em sua boca envelhecida e murcha. Sentiu como se todo o frescor o procurasse, para excitá-lo como naquele dia, em meio ao cafezal maduro. O coração cansado, feito vela a extinguir-se, bateu novamente quando o filme da memória mostrou-lhe Malvina, a plantação, o primeiro beijo e o amor feito na rua do cafezal, amor com cheiro de terra, de broto e de flor, cheirando à vida e ao sereno em noite quente. Desejou viver, amar, refazer cada passo de sua longa jornada e percebeu, enquanto seu peito arfava, que não trocaria um único dia de sua vida pelo dia mais feliz de um soberano qualquer. Não trocaria sequer o dia em que fora despejado de sua casa pelo fazendeiro, carregando seus sete filhos. Nem isso trocaria!!
“Quantos palavrões, dio bono”__ pensou__ revirando-se um pouco e despertando o filho que dormia ao lado. Para cada ocasião, para cada dia ou emoção, era assim que Berto e sua família expressavam emoções : porco cano, dio santo, madona mia, maledeto, desgraciato, porco dio, dio cano, porca madona...
Lembrou-se dos primeiros anos, estava agora com vinte primaveras de vida. Olhou para o filme do tempo com seus olhos apagados e não acreditou que o “filho da puta” lhe tivesse feito tantos estragos. Ali estava ele, novamente com vinte anos, falando um português arrastado e confuso e sendo repreendido pelo padre Geremia, pois prorrompera em mais uma crise de palavrões ao não conseguir pronunciar uma palavra: perolilipipo, parolopipo, e sorriu, agora aos noventa anos, ao ver-se tentando por dias seguidos pronunciar aquele palavrão descomunal: pa-ra-le-le-pi-pe-do!!.
O que Berto nunca falara, mas todos sabiam, é que falar palavrões era uma herança ancestral, uma necessidade do sangue italiano, era mesmo a força da família. Italiano que não fala palavrão não é italiano, é putom.
Berto tossiu e seu filho Genaro assustou-se. O velho pinheiro começava a cair e nada mais deteria sua queda, a não ser o chão, sempre macio e acolhedor, a terra que ele tão bem conhecia, sempre disposta a transformar morte em vida e vida em morte. A tosse aumentou, ele engasgou e Genaro pediu ajuda. Em poucas horas lá estavam todos: doze filhos, vinte e oito netos e os dois bezerrinhos. O velho rangia feito carvalho a retorcer-se, lutando bravamente para permanecer em pé.
Passado o momento mais difícil, uma luzinha brilhou na consciência e a tela da memória voltou a passar o filme da sua vida. Algo parecia desejar, quase que obrigá-lo a rever toda a trajetória. Estava agora com quinze anos, jovem e ágil. O porto de Santos pareceu-lhe a porta do paraíso, a entrada do céu. A imensidão do porto, as carroças abarrotadas de café, o cheiro que estaria por quase toda a vida em suas narinas européias. Sentiu renascer na alma os sonhos dos quinze anos, as esperanças que toda a família trouxera na bagagem. Contemplou os olhos inquietos do velho Chineze, seu pai, e o rostinho magro e bonito de sua mama, sempre tranqüila, explodindo em crises de palavrão que animavam toda a casa, colocando-a em andamento. O navio sujo e apinhado de gente, as noites intermináveis cruzando o oceano, os gemidos abafados que subiam da sacaria vazia, gemidos de dor e prazer preenchendo a noite, andando nos corredores do navio e morrendo no mar silencioso e negro. A língua de seu povo tão sonora e cheia de encantos. Sim, ele podia novamente falar sua língua, como se reaprendesse instantaneamente o velho linguajar das colinas da Itália. As músicas da infância e as festas na vila. Reviu os olhinhos de sua prima e o dia em que fugiram para o estábulo, as carícias apressadas e o medo do inferno, pois o demo andava sempre por perto. Notou o movimento no porto e fez toda a viagem de volta, cruzando o mar e desembarcando nas costas da velha pátria, “Mia maledeta Itália”. Contemplou-se ainda menino, correndo pelos caminhos estreitos de uma pequenina vila, brincando e comendo o mingau aguado, pois era uma época de fome e guerra. Que guerra? Não sabia, aliás, nunca soube. Sabia apenas que por sua causa e graças a fome, a família decidira imigrar e aventurar-se no mundo novo, nas terras brasileiras. Sua mente tinha noventa anos, mas, naquele momento, ele pensava como um menino de catorze ou treze. Lembrou-se de todos os familiares que preferiram ficar na Itália, lembrou-se até mesmo do nome de cada um dos primos e amigos. “Quanto tempo, dio bono! ”.
Começou a falar como criança, a pedir mingau, sopa e ninguém entendia o que estava havendo. Os filhos imaginaram que delirava e o médico, chamado às pressas, aplicou-lhe um tranqüilizante, mas Berto queria correr, comer e brincar, fugir da guerra e encontrar a terra bonita e promissora de que seus pais falavam sem cessar. Suas veias intumesceram, seus braços e pernas pediam movimento, ansiavam pelos caminhos estreitos e longos, seus ouvidos queriam novamente o barulho das rodas do carro de boi cortando a plantação, o canto triste do velho Nelo conduzindo a boiada pelas estradas intermináveis. Ele queria viver, sentir o corpo suado, as mãos vivas e os ramos frios do café, o sabor da rubiácea, o mundo avermelhado numa pintura impressionista, traços vivos e penetrantes. O café maduro, as peneiras sacudindo a tristeza dos dias. Ele queria...queria novamente o sofrimento e a alegria dos dias em que era um homem, um vivente de rosto avermelhado e alma de fogo. Queria o amor e o sabor do vinho seco e forte queimando sua garganta, aquecendo suas entranhas de moço. Macarrão com vinho e polenta doce. Santo dio, até isso queria. Os dias de baile e festa, as quermesses da igreja de Santa Genoveva, o riso solto das moças e seus vestidinhos de roça, o som confuso da sanfona do Girdo Magulin, sentado sob o lampião de luz embaçada, os insetos cruzando o ar, morrendo na claridade do vidro quente. A festa varava a noite, e a escuridão enchia-se de gemidos abafados.
Mais uma crise de tosse, a garganta parecia fechar-se ante a infecção. Ele estertorava, gemendo. Tinha agora pouco menos de dois anos, mas lembrava-se de tudo, de cada detalhe, até mesmo das roupas e do cheiro de alho das mãos de sua mama, uma bela rapariga de seios fartos e olhos claros como o céu da sua vila. Viu-se com um ano, abobalhado, descobrindo o mundo, viu-se com seis meses, curvadinho, chupando o dedo do pé, mamando e sujando as fraldas, o mundo nublado, parecendo todinho feito de nuvens a mover-se por todos os lados. Lembrava-se perfeitamente dos seios e do leite quente escorrendo-lhe pela garganta, adoçando-lhe a boca pequenina. Lembrou-se de alguns palavrões. Desde esse tempo lá estavam os maledetos: “Tuti putom”.
Deu um gemido mais alto, respirou com dificuldade e entrou na contagem regressiva, inspirava e expirava, parava e voltava a ligar a máquina, feito carro velho que engasga para funcionar. Dona Maledeta olhou-o complacente, mas ele mandou-a à merda. A raiva lhe permitiu respirar, lutar ainda contra a derradeira ruína. A putona aproximou-se, disse que era amiga, que vinha pôr fim aos seus sofrimentos, que sopraria a vela trêmula, que se deixasse levar, mas ele resistiu e descarregou o palavrório: "Vai a merda filha da puta, bruta escangalhada, porca putana."
Viu-se dentro da barriga da mama, encolhidinho e miúdo, nadando, atravessando um oceano escuro e aquecido, um mundo feito de silêncios e ruídos distantes, feito de sais e sabores estranhos, uma travessia de nove meses. Sentiu o cheiro do mundo nas ventas pequeninas e ouviu a mama gritando de dor e dizendo aos berros:
__ Nasce desgraciato. Nasce maledeto. Ragazzo de uma porca mama!!
E Berto nasceu."


César Sátiro - Março / 98

Percorrendo Caminhos

Esta é a nossa primeira postagem. Aqui relataremos nossa busca para crescer e conquistar uma vida com mais qualidade. Há anos temos lutado.... já tropeçamos muito, mas quem já não tropeçou? Mas nunca nos deixamos desanimar. Nunca nos sentimos derrotados diante das dificuldades que se apresentaram... ao contrário, sempre renovados para retomar nosso caminho.
Nossa busca é incessante! Os caminhos que percorremos em busca dos nossos sonhos e ideais muitas vezes são longos e difíceis... outras vezes, os obstáculos superados nos permitem avaliar os resultados e observar que as coisas não acontecem como queremos, e sim, tudo é como deve ser! Há uma força mais poderosa que as nossas atitudes... o nosso destino. As nossas inquietações nos levam a agir e a lutar, mas quando nos deixamos guiar, o melhor acontece! As mãos de Deus nos colocam no nosso caminho e tudo vai acontecendo naturalmente e passamos a trilhar com segurança e bem-estar. Há um lugar para cada um de nós neste mundo... As inquietações sempre existirão para aqueles que buscam um mundo melhor e uma vida com mais qualidade, e são essas inquietações que nos fazem agir e prosseguir!
Aqui contaremos sobre a nossa busca e também colocaremos os contos de um "pensador inquieto" que constantemente busca aprender e crescer! As inquietações nos fazem agir, prossegui e crescer!
CRESCER.... que este seja o objetivo de cada um de nós para que amanhã sejamos sempre mais do que somos hoje.